Os Amantes (René Magritte,1928)
Para além das técnicas, se faz necessário, antes de qualquer coisa, que entre o paciente e o analista se estabeleça um vínculo que abrirá o caminho para a análise. Na psicanálise reconhecemos esse vínculo enquanto uma relação de transferência. A transferência é um conceito que permeia os vínculos cotidianos e que se apresenta também na clínica, onde se mostra como uma demanda de amor direcionada ao analista e é tida como o que viabiliza a análise, mas também o que resiste a ela. O analisando transfere à pessoa do analista aquilo que na infância já se estabeleceu nas relações parentais. Há, portanto, na transferência um concentrado da nossa neurose. Uma repetição da forma como a gente se relaciona.
Para Lacan, a transferência se faz diante da suposição de um saber, ele utiliza o termo "sujeito suposto saber" para falar sobre a idealização do analisando projetada ao analista.
Dentro do setting analítico não há duas pessoas, há o inconsciente. Assim, há uma repetição que ao mesmo tempo em que serve como escape do inconsciente – transferência como atualização do ics – e que é passível de interpretação, também resiste ao que é regra básica da análise, a associação livre que possibilita a fala e o escape do conteúdo recalcado. O sujeito, então, preso ao que ele acha que o analista quer ouvir dele, não associa livremente.
Freud divide a transferência em positiva e negativa e relaciona a resistência a essa segunda, lugar que se afirma na erotização e na repetição.
De acordo com Freud, diante da transferência se faz tão desastroso para a análise a condição de satisfação do anseio de amor do paciente quanto sua supressão. Para o autor, o caminho a ser seguido não existe na vida real. O amor transferencial não pode ser afastado pelo analista, repetido ou tornado desagradável para o paciente, mas se deve recusar-lhe qualquer retribuição, o tratando como algo irreal, remontando suas origens inconscientes. Quanto mais o analista se mostre a prova de qualquer tentação, mais poderá extrair conteúdo analítico do que emerge ali.
Para Lacan, a resistência é sempre do analista, visto que aquilo que aparece como barreira no analisando é natural ao processo e viabilizador deste. Sendo assim, é necessário um bom manejo do profissional afim de reconhecer esse processo e utiliza-lo como via da emersão da lógica simbólica do sujeito implicado na análise.
Gabriela Costa.
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