Galatea das Esferas (Salvador Dalí, 1952)
Para falar a respeito da dinâmica psíquica, trago a teoria de Freud a fim de embasar um lugar de discussão que percorre diferentes momentos e conceituações. Essa dinâmica, a qual me refiro, é argumentada pelo autor e traz à tona uma noção de sexualidade que extrapola os limites da biologia e não se baseia em instintos, mas na pulsão, a qual Freud nos apresenta enquanto um representante psíquico.
A pulsão, força motriz do aparelho psíquico, tem como energia a Libido e se dirige a um objeto que, por definição, é um objeto perdido. Assim, a dinâmica da pulsão, que tem como meta a satisfação, é a origem do conflito que determina a formação do sintoma e que expõe a falta estrutural do sujeito cingido, castrado.
Para desenvolver sobre a estruturação do aparelho psíquico, Freud traz aspectos que se apresentam em relação dinâmica, tópica e econômica. No que diz respeito ao ponto de vista dinâmico, mostra-se a suposição de pulsões, as denominadas forças psíquicas básicas em conflito, como causas originárias do funcionamento da vida psíquica. No aspecto econômico, supõe-se a Libido, a qual citamos anteriormente, enquanto energia psíquica de natureza sexual que impulsiona as pulsões e os afetos direcionados aos objetos de desejo, que funciona e pode ser avaliada segundo um fator quantitativo. Ao passo do que se diz sobre o lugar tópico, faz-se uma proposição do psiquismo tal como um aparelho que pode ser visualizado, figurado espacialmente e que possibilita a diferenciação das instâncias psíquicas, dentro de um viés que caracteriza uma ficção teórica.
Freud em sua teoria metapsicológica, primeiramente apresentada no capítulo 7 de "A interpretação dos sonhos", expôs uma estruturação do aparelho psíquico que fora subdivido em três instâncias: inconsciente, pré-consciente e consciente, ao qual era movido por duas pulsões básicas, as de autoconservação e as sexuais, ambas guiadas pelo princípio do prazer.
Devido a questionamentos clínicos, tais como a repetição de situações de desprazer tanto em sonhos quanto em ações em que seus pacientes se submetiam, uma reestruturação desse esquema psíquico fora feito. Essa reestruturação refletiu nos esquemas que foram estabelecidos na primeira teoria das pulsões, na qual Freud colocava como opostas as pulsões sexuais e as pulsões de autoconservação, substituindo esse dualismo pelas categorias: pulsões de vida (que soma as pulsões sexuais e pulsões de autoconservação) versus pulsão de morte.
Nessas novas categorias apresentadas, é visto que além do princípio do prazer encontramos o princípio de realidade, sendo o princípio do prazer aquele que coincide com o processo primário, onde a energia escoa livremente e que tende a uma satisfação alucinatória, e o princípio da realidade enquanto aquele que vai permitir a alucinação dentro de certos limites, ou impedi-la. Nesses aspectos, o predomínio do princípio da realidade, que podemos acreditar que aconteça, não se dá realmente. O princípio do prazer continua a se sobrepor.
A partir de suas percepções, Freud formula uma segunda tópica que não se divide mais nas instâncias consciente (Cs), pré-consciente (Pcs) e inconsciente (Ics), mas sim em Ego, superego e id. O ego, por sua vez, não é referente apenas à consciência, embora esteja ligado a ela. Freud passa a considerar que o ego, topologicamente falando, é entrelaçado tanto pelo Cs como pelo Pcs e Ics, não sendo a parte Ics o recalcado. Para designar a parte Ics que o ego não atinge, Freud traz a instância que denomina Id. Em um plano sistemático do inconsciente, o id tem representantes pulsionais que buscam satisfação, regidos exclusivamente pelo princípio do prazer. No id não há temporalidade, negação ou amarras da moralidade.
Freud fala: “o ego é aquela parte do id que se modificou pela proximidade e influência do mundo externo”. Isto é, o ego é uma extensão transformada do id, mediadora dele diante desse mundo externo, é a confrontação do princípio do prazer com o princípio da realidade.
Diante disso, é preciso pontuar que, mesmo tentando atender ao imperativo de satisfação do id com o menor nível de conflito com a realidade, o ego é, em essência, dependente do id, pois é dele que retira a libido necessária à sua própria manutenção. O ego tenta se fortalecer e se ampliar entrando em contato com o id frente a ameaça de um superego severo.
Assim, não é só com o id que o ego se confronta. Há essa outra instância que é autônoma e que se constitui como um agente crítico. Essa outra instância, o superego, é produto do complexo de Édipo e construído a partir do superego dos pais. Podemos encontrar no superego três funções, uma de auto-observação, outra de consciência moral e a terceira de ideal de ego.
O ego é esse que se defende tanto das pulsões do id como do superego, tentando harmonizar e mediar todas as contradições existentes, a fim de estabelecer um meio termo, lutando entre ser dominado e dominar.
Assim, mesmo sendo esse mediador que preza pelos interesses do sujeito como um todo, o ego não tem uma autonomia total. Em uma visão dinâmica, o ego, o qual vivencia um conflito neurótico, se vê através de mecanismos de defesa, instigado e implicado por sinais de angústia.
Do ponto de vista econômico, o ego, assumindo esse lugar de ligação com o superego e o id dentro de uma circunstância de defesa, se estabelece em energia pulsional que regride, no sentido de retornar a um mecanismo primitivo, assumindo um aspecto compulsivo, repetitivo, como o que se observa na pulsão de morte.
Dessa forma, coloca Freud: “o ser humano é um animal social e, se quiser viver com seus congêneres, não pode se instalar nessa espécie de nirvana, que é o princípio de prazer, ponto de menor tensão, assim como lhe é impossível deixar que as pulsões se exprimam em estado puro”. É nesse sentido que o recalcado se torna essencial na adaptação do sujeito à realidade. É a partir da dinâmica pulsional que a vida se faz em movimento, o qual se estabelece em um laço social que exige do sujeito um confronto consigo mesmo.
Gabriela Costa
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